Senha "Coragem", contrassenha "Pela Vitória"!
O 25 de abril fez-se de lutas, de pessoas, de sorte e de acasos e também de coragem. Fez-se das lutas contra o fascismo, contra a opressão e contra a tirania de um regime autoritário, que ceifava a liberdade de agir e pensar de todos. Fez-se da vontade de todos os que achavam injusto combater, morrer e matar pessoas no ultramar, em nome de um regime que não os representava e que os castigava com a brutalidade e as atrocidades da guerra. Fez-se da sorte e do acaso, que levaram Celeste Caeiro a cruzar-se com os militares, com um ramalhete de cravos nos braços que dariam lugar às balas. Fez-se também da coragem de todos os que deram o corpo às balas de canhão, como Salgueiro Maia, arriscando a vida em troco de nada, a não ser a liberdade do povo.
Povo esse que teve a coragem também de sair à rua, de se inquietar com o desassossego do apelo revolucionário que invadira Lisboa e Portugal. O povo que teve a coragem de apoiar os capitães que comandavam as operações na rua, lado a lado com eles. O povo que subiu às chaimites nesse dia, que veio à janela, que chorou e festejou de alegria e que nos dias seguintes transformou a euforia em assembleias de bairro, em projetos de urbanização, de apoio social e na construção de um Estado Social forte, que fugisse à lógica de uma caridade e miséria perpétuas, criando a obrigação ética, moral e política de restituição de tudo aquilo que lhe foi roubado durante meio século. Um povo que escolheu, intransigentemente, nos últimos 46 anos, a criação de mecanismos de igualdade libertadores e emancipadores, contra aceitação das desigualdades. Um povo que construiu, ergueu e preserva um dos melhores sistemas de saúde do mundo!
Parece ser difícil escrever e falar do 25 de Abril sem nos repetirmos, mas é nessa repetição que consiste a preservação dos ideais e valores presentes nessa data. Uma data feita de pessoas, corajosas e alegres, que sofreram, que choraram, que se emocionaram e que se superaram, para depois voltar ao seu dia-a-dia, despretenciosamente livres. Onde voltaram a ter a coragem de lutar, de se alegrar, de sofrer e chorar, de se emocionarem e superar os obstáculos de cada dia, construindo um “Abril Sempre”, usando a “Coragem” como senha “Pela Vitória”. E depois deles os seus filhos, os seus netos, bisnetos, e todos nós, numa massa anónima de corpos que constituem o Povo!
Um povo que pode pensar e escolher, que é livre de participar na política e que não precisa mais de depender da sorte e do acaso para afirmar as suas escolhas, para exigir os seus direitos e para garantir as suas liberdades. Um povo que goza da proteção que a Constituição lhe dá e da representação que as eleições lhe garantem, sob uma balança de equilíbrios e contrapesos no fiel da separação de poderes. Um povo que tem hoje a possibilidade de abraçar um futuro mais igualitário, justo e equilibrado, rejeitando as amarras de um passado populista, mas impopular.
O 25 de Abril fez-se de muitas lutas, de muito barulho e festa. Saibamos manter a luta, sempre, todos os dias, sem abdicar do barulho e da festa que a democracia nos trouxe, agitando o corpo e a alma de todos os que nela cresceram, vivem e preferem morrer. Viva a Revolução dos dias! Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade!