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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Um dia marcamos um encontro, no meio do Oceano

© João M. Pereirinha | 2014

 

Lá vai mais um. Como? Voando, como todos os outros. Pois, sim, mas para onde? Para tão longe que não dava para ir caminhando, certamente. Mas porquê? Sei lá! Há melhor motivo para partir do que procurar uma vida decente, ao menos? Vou-os vendo despedir-se nos feed’s das redes sociais, partilhar as suas descobertas lá longe, criando um futuro ancorado aos portos de abrigo que encontraram. Ninguém os obrigou efetivamente a partir, mas certamente que lhes faltaram motivos para ficar.

 

Julgo que há menos andorinhas a migrar a cada primavera, do que jovens portugueses a embarcar nos aeroportos, só com bilhete de ida. Vão procurar um destino melhor? Certamente! Vão por que querem? Talvez… Vão porque precisam? A maioria sim… É a economia global, dirão alguns. Afinal de contas, somos cidadãos da Europa, do mundo… Mas quanto vale o afeto de um abraço amigo, nessa economia do mundo? Quanto vale o sabor dos alimentos plantados na terra que nos viu crescer? Quanto valem as lágrimas das famílias à distância de uma chamada via Skype, numa despedida na porta de embarque? Quando vale o futuro de um país que perde o investimento na educação daqueles que se esmifram em apertados acentos de avião, em diversas trocas de fuso horário, na compreensão de uma outra língua por vezes apócrifa, sem convicções de retorno, em troca de um salário digno e merecedor dos seus conhecimentos e capacidades?

 

Mas, também, quanto vale o ‘limiar da pobreza’, esse indicador onde muitos, mesmo querendo, não podem sofrer a indignidade da pobreza pedinte, nem se permitir ao luxo de partir num charter? Quanto vale o pão para a boca, o café pela manhã e os sabores da tristeza amargurada de ter de escolher entre comer ou dar de comer ao próprio filho?

 

‘Ora, lá vai mais um, a seguir vai outro… e depois mais um, que só dois são pouco…’Porque não vamos todos? Afinal de contas, e sendo que os números é que importam, qual é diferença entre uns tantos que foram e os quantos que ficam? Um salário, uma casa, comida na mesa, e roupa lavada. Descontos e serviços sociais, apoios laborais, e segurança! Só para começar, um sonho, mesmo que distante, mas um sonho possível de almejar, em ser feliz ou realizado, trabalhando.

 

Pois o trabalho, tanto como fonte de rendimento, mas também como prática de realização, é não por acaso um direito fundamental reconhecido em quase todo o mundo. Sendo que, aqueles que me venham dizer que, não saíram por motivos políticos, ou razões se não profissionais, e na senda de novas e estimulantes oportunidades no estrangeiro: meramente me entristecem, ao admitir a falta de oportunidades que temos em Portugal. Pois duvido que, sendo que é comprovada a nossa teimosa resiliência humana perante a mudança, qualquer um ou pelo menos 8/10 equacionasse sequer ir para Espanha viver, tendo em Portugal as mesmas condições de vida.

 

Quando nos voltamos a ver? Um dia! Sim, mas onde? Tanto faz! Eu irei ter contigo, ou tu voltas a casa, após juntares algum dinheiro! Sim, quem sabe não vou também viver aí, se me arranjares alguma coisa, avisa! Porque não?! Isto aqui está mau, mas gostava de ir conhecer isso, viajar… Mas sempre nos podemos encontrar a meio, assim poupamos os dois! A meio do quê, do Oceano?! Boa viagem, coragem e boa sorte! Até à próxima!