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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Política mesmo!

A política não se esgota na Economia, nem a Ecomimia é refém de uma simples visão política e social. Do mesmo modo que quem se acha dono da verdade costuma pecar por excluir da equação a ignorância daquilo que desconhece. Sem reconhecer que, aquilo a que podemos designar como verdade não passa de um ângulo subjetivo através do qual cada um filtra a o que perceciona.

 

Deste modo, a confirmar-se a recusa de Merkel em receber o Primeiro-Ministro grego, Tsipras, depois de a Europa se tornar um "Palco" em vez de um "Berço", de "conflitos" e "confrontos", em vez de "construção" e "apoio"; isto parece-me um incidente diplomático sem precedentes, entre povos de uma União. Passando de um problema económico e financeiro, para uma questão também geopolítica. Uma coisa é não concordar com a solução, outra bem diferente é nem querer ouvir ou "negociar". Ou, talvez isto já fosse assim há muito tempo, quem sabe, vá, desde o início da crise?!

 

Entretanto, enquanto a Guerra não termina, em Portugal maquilham-se os números à imagem do que a escola Europeia se e nos habituou a fazer, porque o que interessa é a figuração nas tabelas, e que se requalifique aritmeticamente a pobreza nessas tabelas. Ou melhor, a miséria.

 

A mesma miséria que leva pessoas a brigar pelo acesso aos contentores das traseiras de um supermercado perto de si! Ou que, à porta do mesmo, lhe suplica uma qualquer esmola ou coisa que lhe afague o estômago neste inverno, em que o frio da rua leva à morte uns e fustiga outros. Aqueles que têm medo de ser expulsos do calor dos Centros Comerciais, e cuja lágrima lhes cai quando lhes damos um pão, ou uma sopa. Longe de poder viver “acima das suas possibilidades”, ou seja: com um teto, uma cama, um copo de vinho e uma sardinha na mesa.

 

Mesa, o que é isso afinal? Há quanto tempo muitos já deixaram de ter com que matar o apetite à mesa? Não há nada mais inútil do que o capital, por não se esgotar num único propósito ou objetivo. Mas, para pouco mais tem servido do que se debruçar sobre si mesmo, numa materialidade abstrata. Afinal, o que é o limiar?

 

O limiar é um eufemismo semântico para fazer uma distinção absurda entre aqueles que estão à beira de atravessar a porta da calamidade sem retorno. Depois que esta se lhes feche nas costas, com a morte, o desagregar das famílias, a esmola, o desemprego perpétuo com oportunidades de trabalho próximas da humilhação e da escravatura.

 

O executivo atual não é um carrasco, por pena de sermos injustos com o papel imparcial do trabalho que os carrascos executam. Não, o executivo português (entre outros) é um capataz de uma fazenda de interesses, movida a elitismos pomposos dos salões de excentricidades, que exercem os seus poderes em benefício próprio. Para quem se tornou banal, chicotear quem está de rastros, matar de fome, sede e desespero, quem menos armas possúi para se defender.

 

São filhos de uma elite impreparada para lidar com o fracasso, sitiada em preconceitos e impressões sobre a sociedade na qual sempre foram uns inadaptados sem escrúpulos, subindo a troco de favores nas hierarquias institucionais. Em suma, incapazes de pensar por si mesmos ou tirar ilações sem escolta dos padrinhos políticos, sejam eles exemplos nacionais, ou internacionais, como o caso alemão.

 

O que não pode prevalecer é a narrativa da impunidade, sobre a qual navega a vergonhosa atuação do incumprimento de promessas e programas, com sucessivas danças das cadeiras e pastas, baseada nos currículos falsos e engordados com cargos sem substância. Numa contínua burrice intelectual do "in-conseguimento". São uns falhados, e até a Troika o admite!

 

O clímax de uma narrativa, trágica e épica, é aquele momento até onde o herói é conduzido, consciente ou inconscientemente, pelo desejo de saber, e é feito de reviravoltas, twists e revelações. Nem sempre ou necessariamente o mais extenso ou pormenorizado. É o momento em que se definem as resoluções finais para cada personagem, perpassando o choque ou consternação, e em que a máscara cai a todos, num assomo de realidade cruel, mas térrea. Embora a cena em que Dom Quixote se digladia contra os moinhos de vento, ocupe uma única página no meio de mais de setecentas, ela é suficientemente inspiradora, estimulante e gráfica para que tenha, em tão curta metáfora, toldado a nossa memória coletiva sobre uma única história. A narrativa da rispidez e do empobrecimento dos povos em detrimento de juros de dívida soberana contraída aos mercados financeiros (banca) está a chegar a este ponto de tensão.

 

Portanto, quem será afinal o maior tolo, nesta descomunal batalha no plano da sacrossanta Austeridade que nos tem dizimado a vida, o emprego, a dignidade, e os sonhos? Quem quer restringir os países mais expostos à crise a uma degradação social sem precedentes; ou os que acreditam que a soberania, o voto e a democracia, são um elo de legitimidade que deve obrigar os dirigentes políticos zelar pelo interesse, salvação e honra dos seus povos?

 

Quem pretende limitar e condenar a ação de um governo empenhado em fazer valer a voz da sua Nação, desconsiderando a sua legitimidade democrática em aplicar uma reforma e soluções próprias, está também a desconsiderar o voto do seu próprio povo.

 

Uma coisa é certa: depois de sequestrada parece que a Política voltou à Europa! Para os restantes que desvalorizam os sacrifícios sofridos por boa parte da população europeia, ficam três boas citações: “Para quem tem uma boa posição social, / falar de comida é coisa baixa. / É compreensível: eles já comeram”, pois “primeiro vem o estômago, depois a moral”, mas “quem não conhece a verdade não passa de um tolo; mas quem a conhece e a chama de mentira é um criminoso” Bertolt Brecht.