Obrigado, Obama!
Independentemente de todas as divergências ou convergências políticas e ideológicas que tenha tido ou possa ter sobre a análise e papel do mandato de Barack Obama, durante oito anos como Presidente dos EUA, posso deixar-vos uma pequena confidência: se não fosse Obama, nunca teria ido para a universidade. Em 2008, enquanto era presidente da comissão de finalistas e tinha começado um programa de rádio, chumbei pela primeira vez no exame nacional de Matemática A. Ao mesmo tempo conseguia passar à cadeira de Física, "o problema do João é que sabe explicar, mas não percebe nada e matemática", dizia-me o meu professor. Tinha razão. No ano lectivo seguinte, 08/09, voltei a repetir a disciplina, conciliada com Psicologia, e voltei a chumbar na matemática, enquanto tirava notas excelentes na outra. Entretanto, Obama era eleito, sob o slogan do "Yes We Can!", o apoio de quase toda a comunidade artística que eu conhecia, herdava uma crise mundial que, no caso particular da minha família, nos tinha afectado bastante e cortado imensos sonhos. No final do ano inscrevi-me finalmente num colégio de Ensino Recorrente em Almada e decidi que iria passar, fazer os exames de Língua Portuguesa e concorrer a qualquer coisa em letras ou comunicação (o jornalismo era o que mais me atraía). Tinha a hipótese de ir a Almada todas as semanas e fazer o exame no final de cada trimestre, sendo que seria quase impossível passar logo no primeiro, em Janeiro. Até que, Barack Obama faz o discurso inaugural daquele ano lectivo. O jornal i, na altura acabado de abrir, não só com um grafismo extraordinário e atraente, mas com uma redacção de 70 profissionais e alguns rasgos de paixão, imprimiu o discurso nas duas páginas centrais. Li aquelas palavras e fiquei galvanizado, "Yes We Can!", "Yes You Can!", voltava ele a dizer e desta vez aos mais jovens, a mim. Fui procurar o discurso na internet e vi-o repetidamente, ele deixava uma mensagem de empenho para qualquer jovem, não só americano, onde enfatizava que o que importava não era o número de tentativas, mas sim conseguir atingir os nossos objectivos, dando exemplos de vida desportivos e culturais como Michael Jordan ou J. K. Rowling. Guardei aquelas páginas, emplastifiquei o frágil papel de jornal e colei-o na parede. Pedi apontamentos de anos anteriores, exames, livros de exercícios e, religiosamente, durante três meses, estudei mais matemática que alguma vez até ali. Fiz todos os exercícios em casa, comparei com as resoluções, refiz, enviei dúvidas por e-mail ao professor, para economizar nas viagens e na quebra de rotina e, quando chegado a Janeiro, passei (aliás, fui o único a passar) no exame com 15 valores. Mais tarde, arranjei emprego num café para pagar as minhas despesas, voltei a estudar e a fazer os exames de Língua Portuguesa e candidatei-me ao Ensino Superior. O resto, pode ser discutível, mas a verdade é que Estudos Artísticos também foram uma paixão inesperada da qual não me consegui divorciar. A verdade é que aquele discurso permaneceu na parede do meu quarto durante alguns anos e ainda hoje o tenho guardado. Seja como for, a verdade é que, talvez sem ele, não seria, sem dúvida, a mesma pessoa que sou hoje. Por isso, de certa forma: Obrigado, Obama!
Imagem: Poster de Obama por Shepard Fairey.