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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

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O "SUPER BOCK ARENA PAVILHÃO ROSA MOTA" É UM REFLEXO DO PAÍS

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Uma parte importante da bibliografia da minha tese de mestrado ("Desenvolvimento Cultural Sustentável: Passado, Presente e Futuro (do Estado) da Cultura", 2015, FDUC) recorre a uma bateria de estudos/proposta encomendados pela Secretaria de Estado da Cultura, na altura sob mandato de Jorge Barreto Xavier e da alçada do Primeiro Ministro de então, Pedro Passos Coelho. Esses estudos foram apresentados e discutidos no âmbito do evento Cultura 2020, no CCB, onde estive a assistir no dia do painel internacional e acompanhei as discussões dos painéis referentes aos estudos por streaming. 

 

O que aconteceu foi uma espécie de esquizofreria sobre o paradigma da cultura. Enquanto os oradores internacionais apelavam à regulação, investimento e intervenção directa do Estado nos processos culturais e identitários, na preservação da memória e no incremento das relações intercultural e multiculturais, estando atento aos vícios de aculturação e de autofagia do mercado de entretenimento; o painel nacional, salvo raras excepções, apelava basicamente à liberalização (ainda mais) do meio cultural, à privatização do património público (edifícios, estruturas e direcções museológicas, teatrais e outras) e entre as muitas propostas, além do aluguer de edifícios entretanto aprovada e com os bons exemplos que temos visto, estava até a possibilidade de vender os nomes de edifícios históricos a marcas comerciais!!! Tipo, um "Nike Jerónimos", ou então, à imagem dos exemplos recentes, um "Panteão Summit", um "MEO ARENA", ou um: "Super Bock Arena Pavilhão Rosa Mota". 

 

Havia toda uma filosofia nestas propostas, que algumas vezes se contradiziam nas próprias conclusões. Era a necessidade ideológica de privatizar e vender todo o tipo de património do Estado. Era o neoliberalismo aplicado à escala máxima da Cultura - nem os norte americanos fazem isso. Mas também estava patente outra coisa aqui: isto aconteceu, não foi revogado e salvo dois exemplos recentes, pouco nos importamos com esta forma de gerir e cuidar do Património Cultural. 

 

Pouco nos importamos que o nosso orçamento para a Cultura seja percentualmente um dos mais baixos da Europa, da mesma forma que pouco nos importamos que muito desse património navegue entre o excesso do abandono e o extremo da privatização. Pouco nos importa porque temos um dos índices de participação e fruição cultural mais baixos da UE. Pouco nos importamos porque o que importa sempre é "animar a malta" e de festa em festarola, certame, feira e festival, vamos arranjando desculpas para a falta de meios, de técnicos, de verbas e de vontade que enquanto país sempre tivemos para olhar para a Cultura e para as Artes.

 

Não, este não é um problema político apenas, é mesmo um problema Cultural e Comunitário. Apesar da solução poder ser política, e parte dela, assim como defendi em 2015 na Academia, passa por modelos de Planeando Sustentável e de Gestão Participada da Cultura, sobretudo a nível local.