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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

O racismo e o fascismo de mãos dadas

AP Photo/Julio Cortez

Quando não se tem nada a perder, é preciso arriscar tudo. Em primeiro lugar, as manifestações antirracismo que têm surgido nos EUA, nos últimos dias, após o assassinato de George Floyd, pela polícia, merecem toda a nossa solidariedade. Elas não só são legítimas, como ousam expor as entranhas de um país que, apesar de economicamente rico, é socialmente falido, violento, opressor e desigual. Toda a solidariedade é pouca, quando falamos de gente que vive num território que lhes nega a cidadania plena, há gerações e durante a vida inteira, subjugando a igualdade com a morte, a escravidão moderna nas prisões (quase todas privadas e esmagadoramente ocupadas por negros, apesar destes serem apenas 13% da população, onde é permitido o trabalho forçado) e a segregação por meio da violência policial e da discriminação institucional.

 

Em segundo lugar, devemos repudiar totalmente a escalada bélica de um governo que não faz um mínimo esforço por mitigar as contradições da sociedade, mas sim alimentá-las, em todos os eixos, gerindo o caos como fonte da sua legitimidade em governar para uns e contra os outros, atacando e desrespeitando qualquer grupo que não pertença à sua base de apoio. Assim como devemos repudiar a mínima associação com grupos fascistas e neonazis, cujo revisionismo faz parte da estratégia de apropriação de signos e significados, que se vai adaptando conforme o contexto. Porém, a partir do momento que se afirmam como são, não podem ser tolerados nem normalizados, mas sim enfrentados e combatidos! É tão necessário resistir quanto reagir ativamente, sob pena de ceder ainda mais espaço para a barbárie.

 

Em terceiro lugar e por fim, só se compreende aquilo que está a acontecer, seja nos EUA ou no mundo, através de uma conexão à realidade prática da população. Pois o sentido das lutas deriva da base material do sujeito oprimido, violentado e negligenciado. Por isso a urgência para que haja uma solidariedade universal para com determinadas batalhas que vão além do apreço ou não da violência, do maniqueísmo oportunista e do apego à propriedade: estamos a falar de vidas humanas, vidas que são massacradas pelo aparelho do estado, com aval da justiça (raros são os polícias condenados) e com a omissão da sociedade; estamos a falar de um grupo que até na pandemia é discriminado, depois de ter sido abandonado, aumentando o índice de mortes entre a população negra; e estamos a falar de uma massa de gente cuja vida é talhada por essa falta de oportunidade, respeito e dignidade pela cor de pele.

 

Entretanto, Donald Trump propôs classificar os movimentos antifascistas como terroristas. Algo que Bolsonaro partilhou imediatamente. O racismo e o fascismo andam de mãos dadas, assim como o capitalismo, que endossa os dois. No mesmo dia, em São Paulo, a Polícia Militar escoltou manifestantes fascistas (com bandeiras neonazis) e mandou bombas de gás lacrimogéneo contra manifestações antifascistas e pró-democracia. A criminalização e perseguição de grupos políticos já aconteceu antes na história. Sabemos no que deu, e é por isso que nos devemos unir contra isso! Sem limites, sem dúvidas, sem hesitações e com força!

 

Imagem: AP Photo/Julio Cortez.