O PAÍS DO FUTEBOL RENDEU-SE A JORGE JESUS
Aqui no Brasil muita coisa é diferente, é o "impedimento" , é a "zaga" e o "zagueiro", a "torcida" e o "goleiro", o "artilheiro" e o "arqueiro", o "bandeirinha" e a "prorrogação" e quando a bola entra é "gol". Mas a bola continua a ser redonda, no campo são 11 para cada lado e quem marca mais golos geralmente ganha. Jorge Jesus sabe disso e é por isso que tem feito um desfile de exibições e goleadas pelo futebol brasileiro.
O "mister", como é tratado pela torcida - devido a um episódio onde pediu para ser tratado por mister ou Jorge, em vez do sobrenome - recebeu o Flamengo com uma das equipas mais caras do campeonato, mas com dificuldades de articulação e coesão, e fez aquilo que sabe fazer melhor. Nas suas mãos, o mengão é hoje uma equipa vertiginosa no ataque em profundidade, apoiado pelas alas que ajudam a fazer pressão numérica, num futebol alimentado pelo habitual triângulo a meio campo com recurso aos passes em diagonal, como sempre nos habituou. Mas mais do que isso, é uma equipa que aposta na velocidade, não falha nas bolas paradas e entra em campo com uma pressão avassaladora sobre o adversário, mantendo um ritmo alto nas jogadas do início ao fim. Ao mesmo tempo, é uma das equipas mais coesas nas diferentes frentes. Jorge Jesus recusa usar o modelo de rotatividade habitual no Brasil, dispondo de todos os jogadores numa rotatividade menos drástica, em torno de um 11 principal, em vez de usar duas equipas conforme a competição, apostando assim numa metodologia de treino intensa, algo bastante raro aqui.
Graças a isso, ontem carimbou a passagem do Flamengo para a final da Copa Libertadores da América, 38 anos depois, ao mesmo tempo que se mantém isolado no campeonato, com dez pontos de vantagem e o melhor ataque. Infelizmente, esse ataque ontem fuzilou a equipa do Grêmio, por quem torço aqui no Brasil, por 5-0 no Maracanã. A pior derrota de sempre do tricolor na competição
Seja como for, os brasileiros estão rendidos à capacidade de Jorge Jesus e não é para menos. Mas a impressão que tenho é que a maioria, incluindo os técnicos, ainda não entenderam bem JJ e não me refiro às diferenças fonéticas - ontem quase perdeu a voz de tanto gritar - mas sim à disruptura que trouxe para o futebol brasileiro. Por mais defeitos ou qualidades que lhe aponte, como benfiquista tenho a minha quota, não posso deixar de me render a este trabalho de ilusão e espetáculo, onde os jogos são ganhos pela equipa que joga mais futebol e se empenha mais no jogo.
Não sei se Jorge Jesus tem alguma coisa a ensinar aos técnicos brasileiros (em método, gestão e preparação) como ele afirmou à chegada. Mas sei que tem ganho por mérito da sua equipa equipa e não demérito das outras, algo que poucos entenderam, pelo menos até ontem.