Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

O MEDITERRÂNEO É O HOLOCAUSTO DO SÉCULO XXI

PhotoGrid_1572398469526.jpg

Tantas décadas depois da queda dos impérios e dos nacionalismos que conduziram à Segunda Guerra Mundial, parece que continuamos a ter de enfrentar as mesmas batalhas. Enquanto os ultraconservadores da política, adeptos do mercado, donos da moral e dos bons costumes, criticam a indumentária alheira com uma mão, com a outra, amparam a desregulação do mercado financeiro, o desvio de capitais, os abusos laborais e as atrocidades da guerra. 

 

Recentemente, no Parlamento Europeu, a Moção para a Busca e Salvamento de Vidas Humanas no Mediterrâneo foi chumbada por 290 votos contra 288. Onde 3 deputados Europeus Portugueses contribuíram para esse chumbo: Nuno Melo (CDS), Álvaro Amaro (PSD) e José Manuel Fernandes (PSD), este último absteve-se.

 

Num mundo onde as prioridades do "livre comércio" continuam a suplantar largamente matérias humanitárias, num mundo com mais de 70 milhões de refugiados, é natural que os próprios sejam tratados como mercadoria por todos aqueles que se aproveitam disso para os despejar em alto mar, agonizando numa morte lenta. Num mundo onde se "resgatam" bancos para "salvar" capitais de risco de empresas descapitalizadas pelos "tubarões" do mercado financeiro, que fazem especulação com as dívidas públicas, é normal que haja pessoas a morrer em câmaras frigoríficas, feitas para transportar carne e peixe. É normal que outros tantos acabem escravizados em campos de exploração agrícola, um pouco por toda a Europa, assim como no Alentejo. Ou na melhor das hipóteses, que sejam presos em campos de refugiados, a troco de um subsídio mínimo atribuído por cabeça. Um tomate, uma sardinha e um porco, todos eles têm mais valor do que uma vida. 

 

As vidas dos outros não têm preço, por isso não são valorizadas. Até porque muitos deles são apenas corpos, nus, sem bagagem, despidos de humanidade, de traços identitários e culturais além da cor da pele, da língua e da desnutrição. Mortos, não passam de carcaças humanas, pele sobre carne enrolada em ossos, reduzidos ao mínimo da sua existência, submersos pelo desprezo. Ao ponto do Mar Mediterrâneo se ter tornado hoje no holocausto do século XXI. 

 

Talvez se os refugiados usassem fato e gravata, saia ou saltos altos, a Europa tivesse mais piedade e fosse mais impetuosa na necessidade de travar a guerra e salvar as suas vidas. 

 

Ilustrações de João Fazenda e Vasco Gargalo.