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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

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No Brasil, teremos que cuidar uns dos outros

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O que está a acontecer no Brasil não é normal em país nenhum. Um ministro da saúde que mente ou ignora os dados, inclusive de outros países. Um ministério aparelhado por militares. O chefe da diplomacia que e diz que o vírus é comunista e ataca a OMS. Colapso de hospitais em algumas cidades, com valas comuns a serem abertas com escavadoras. Shoppings a reabrir noutras, com saxofonista e palmas às aglomerações de clientes. O ministro da economia que insiste em reduzir o estado, privatizar serviços e cortar em servidores, porque que a solução está no privado. A ajuda emergêncial demora a chagar a quem precisa e os despedimentos continuam. O presidente, o rei nu desta farsa, participa de manifestações contra o isolamento e os outros poderes num dia, e diz que ele próprio é a constituição no outro.

 

A esmagadora maioria dos governadores estaduais (o Brasil ainda é uma federação) está neste momento a enfrentar uma crise com três frentes: a avalanche de casos e mortes que comprometem o atendimento médico; a pressão constante de empresários e associações empresariais, juntamente com carreatas contra o isolamento que fazem paradas que bloqueiam as artérias de acesso aos hospitais; e o próprio presidente, que armadilha o congresso, ameaça o STF, não tem uma estratégia para lidar com a situação — a não ser eximir-se de responsabilidades e sabotar qualquer tipo de medida — e ainda incentiva as pessoas a descumprir o isolamento. Praticamente nenhum Estado está a cumprir mais de 50% de confinamento, o país é um dos que menos testes faz e mesmo assim, com parques, praias e ruas lotados, a situação só não é pior porque muita gente fica em casa.

 

O governador do Maranhão teve que usar manobras de guerra, para conseguir trazer respiradores comprados na China, evitando os EUA através da Etiópia, e ainda recorrer ao STF para evitar que a União os confiscasse. A pior pandemia que o país enfrenta, na verdade, é a derrocada da democracia, que chegou antes do coronavirus. Enquanto profissionais de saúde desesperam e familiares lamentam a perda prematura de entes queridos (alguns bastante jovens), entre os quais vários enfermeiros e técnicos, a desinformação leva cada vez mais gente à rua, onde agora até os jornalistas são alvo de ataques. 

 

O que está a acontecer no Brasil é inaceitável em qualquer parte do mundo. Nem a pior das ditaduras é capaz de demonstrar tamanho desprezo generalizado pela vida humana. Há quem tema um golpe de Bolsonaro. Não precisa. A sua decadência política já transformou o estado num enorme necrotério. Resta-nos pouco mais do que respirar fundo e suster a respiração para aguentar a onda. Zelar pela segurança coletiva e individual de quem está próximo. Apostar na solidariedade e apoiar a generosidade de todos os que se organizam em plataformas de apoio social. Resta-nos pouco mais do que cuidar uns dos outros, aguentar o máximo possível e esperar que tudo passe, porque vai passar. Vai ser difícil, mas vai passar, e quando terminar vamos ter que condenar todos estes assassinos que nos querem dividir, enfraquecer e dizimar. Pode demorar, mas esse dia chegará.

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