CATALUNHA: A DEMOCRACIA DEVE SER O PALCO DAS IDEIAS
Todos os corpos têm um limite de elasticidade, que é a tensão máxima que um determinado material aguenta até sofrer deformações permanentes. Ao reprimir as ideias de independência da Catalunha, Espanha parece estar disposta a ultrapassar esse limite.
Refugiada na lei e na Constituição, a Suprema Corte espanhola condenou os ex-membros do governo da Generalitat, o presidente do parlamento da Catalunha e dois líderes, a um total de 100 anos de prisão. O art. 2° da Constituição Espanhola - aprovada três anos após a morte de Franco - é um travão à autodeterminação, e foi isso que acabou por ir a julgamento, reprimido o conteúdo e não a forma. O que não deixa de ser um julgamento político.
A ilegalidade de uma questão não impede a sua defesa ou a promoção da sua legalização. Com esta condenação, Espanha (os madrilistas e os franquistas ainda existentes em várias instituições) mostram que pretendem reprimir a ideia de independência regional com a mesma força com que em 1714 Felipe V mandou abolir todas as instituições catalãs e proibir o catalão como língua. Nem isso, nem a forte repressão de Franco após a Guerra Civil, foram capazes de impedir o crescimento do catalanismo. Porém, os tribunais espanhóis parecem não distinguir o diálogo político da luta terrorista.
A recusa de maior autonomia exigida e negociada durante as últimas décadas; a revogação de praticamente todo o Estatuto da Catalunha; a recusa em permitir que o governo regional faça a gestão dos impostos; a recusa à realização de um referendo; o desprezo pela vontade expressa pela população na realização deste; e agora a prisão e condenação dos políticos que deram voz a esse processo; têm transformado aquilo que devia ser um debate político, numa conversa de surdos, esticando a corda até a um ponto de rotura irreparável.
Se o impedimento ao entendimento, por via de um referendo ou não, é a Constituição, os espanhóis deviam ponderar sobre o que é mais importante: a existência de presos políticos, em prol da subserviência ao poder central; ou o dilatar da autonomia regional com a possibilidade de autodeterminação das regiões, emendado a lei fundamental.
Seja como for, a Democracia deve ser o palco das ideias. É nela e na liberdade que ela nos garante, que se deve jogar o confronto de ideias com a exigência de direitos e garantias ou a emancipação. Porém, quando se proíbem as ideias, resta o quê? Não sei, mas os catalães estão na rua e ignorá-los é um suicídio.