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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

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Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

A vida (afinal) é um Forró

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O último final de semana que passou foi um final de semana normalíssimo, tirando a coincidência de a Violetta ter dado seis concertos em Portugal, e que houve eleições na Grécia. Então, é normal que os comentários políticos não tenham ultrapassado o nível de uma Casa dos Segredos, ou um Achas que Sabes Dançar, com toques do Aqui há Talento da RTP que enviou um idiota à Grécia.

 

Parece que, no final das contas, depois de uns tantos Charlie’s da semana passada se terem destituído da posição, hoje todos se empenham em dar razão ao Gustavo. Pois, parece-me mesmo uma “Libertinagem de Expressão”, chamar “radicais” e “extremistas”, a uns partidos que mais não querem do que alvejar a austeridade que lançou um terço da população grega para o desemprego sem direito ao serviço nacional de saúde. Ou até mesmo, loucos, exigir a decapitação da dívida astronómica que os parceiros europeus e o FMI têm alimentado escabrosamente.

 

Enfim, como diria o “Papa Xico” ou o “Gus”, não se goza com a fé dos outros. E isto de chamar “radicais”, no mesmo mês, ou no mesmo noticiário, tanto a quem defende a liberdade, direitos e garantias num Estado Democrático, como a quem exige a queda do mesmo, é no mínimo uma anedota que nem ao Cabu lhe passaria pelo lápis.

 

Mas entretanto, em Portugal as prioridades são outras, que não passam pelo fim da austeridade ou a retoma da economia. Pois estas, a avaliar pelas filas dos concertos da Violetta, não incomodam em nada os comuns transeuntes. O que incomoda, realmente, é ter de esperar horas a fio, numa fila que dá a volta ao Atlântico (perdão, MEO Arena) depois de se terem pago bilhetes entre os irrisórios €35 e os módicos €500. Consoante o amor que cada pai tiver pelos seus filhos.

 

Isto porque, em movimentos como este, fenómenos osmáticos de outros como Floribella ou Hannah Montana (note-se na grafia, com a predominância da repetição numa consoante), a imoralidade da Banca ou da Alta Finança, são umas meninas. Pois diz-se às crianças que o que importa é o “amor”, mas cobram-se fortunas aos pais, que de bom grado afirmam que nem mártires da escravatura audiovisual das manhãs de sábado: “eu faço tudo pela felicidade das minhas filhas”.

 

O amor dos pais, passa então a ter como bitola o preço da fila onde conseguem arranjar lugar; ou pela ingratidão de, mais que não ter alimento para a boca do rebento, não conseguir ir ao concerto como todos os outros. Assim como um dia vaticinou um revendedor de uns patéticos manuais em CD-ROM que nos bateu à porta a tentar vender um produto para o qual não tínhamos necessidade alguma, “quando cresceres e não fores ninguém, bem podes agradecer ao teu pai que não te quer comprar isto”. Ora, nesse dia, e porque estávamos calmos, poupámos os cartuchos das quatro espingardas que estão à porta.

 

O que não quer dizer que hoje eu seja alguém. Para se ser alguém neste país é preciso estar em prisão preventiva, ser o recluso 44 em Évora, e alegadamente ser ex-primeiro ministro. Desculpem, essa parte está confirmada, o resto é que é alegado. Aliás, como é facto a excursão de apoio ao mesmo que partiu cedo da Covilhã, na madrugada de Domingo, para protestar à porta de um estabelecimento prisional, com cravos na lapela, contra a prisão de uns e a liberdade em falar ou humorizar de outros. Afinal, há limites para tudo, e é provável que, os donos da marca registada do 25 de Abril, ainda venham a cravar de balas todos aqueles que ousem brincar com a inocência de alguém, cuja fé os torna devotos.

 

Porque, em suma, a vida não passa de um forró, agitado, desequilibrado, dançado ao som das baionetas e ao ritmo das convicções de cada um.