A MENSAGEM DE GRETA INCOMADA MUITO
Atacada pela idade ou pela doença, o único problema de Greta Thunberg é que a sua mensagem incomoda
A partir dos 16 anos, às vezes até antes disso, um menor pode entreter a sociedade (sendo ator, músico, desportista, etc.) e produzir (trabalhar), ou até mesmo casar e ainda pedir emancipação. Também pode conduzir veículos motorizados (em alguns países com restrições) e não é incomum que viaje sozinho (em intercâmbios, viagens de finalistas, etc.). Mas se for para confrontar a sociedade, defender uma causa e lutar pela sustentabilidade do planeta, o lugar dela é na escola.
Sim, a própria Greta também concorda que devia estar na escola. Lugar pelo qual Malala Yousafzai se bate para que outras jovens tenham acesso. Lugar no qual o Governador do Rio de Janeiro mata crianças, à entrada e à saída. Local onde ocorrem a esmagadora maioria dos atentados nos EUA. Lugar onde as crianças tomam conhecimento da urgência de lutar pelo mundo. Por isso, Greta também admite e sabe que faz parte dos privilegiados que podem abdicar desse lugar para tomar a ação pelas próprias mãos.
O que não podemos é dar-nos ao privilégio de desperdiçar tempo, energias e argumentos para descredibilizar a mensageira, sem ouvir a mensagem, seja porque não gostamos daquilo que é dito, seja porque não nos importamos ou porque somos hipócritas mesmo. Não importa. O que importa é que não podemos deixar tudo como está. Porque está tudo a piorar.
Algo que nem sequer é novidade. Severn Cullis-Suzuki já o tinha alertado em 1992, com apenas 12 anos. Já os cientistas o alertam há décadas. E a comunidade internacional tem consciência dessa urgência e necessidade, pelo menos desde a Conferência de Estocolmo, em 1972.
Por isso, por mais compreensível que seja qualquer objecção, numa coisa devemos concordar: se não forçarmos a classe política e as classes dominantes, as empresas e os produtores a tomar medidas sérias, não será só a Greta que vai faltar às aulas, milhões de crianças vão deixar de ter escola, acesso à alimentação e água potável, condições de saúde e de subsistência num futuro muito próximo. À imagem daquilo que já acontece, num presente muito amargo, com as crianças dos países menos desenvolvidos, dos países com maiores taxas de poluição atmosférica e com as crianças que mesmo nos países ocidentais estão privadas de contactar com a realidade.
Talvez seja mais útil refletir sobre a mensagem, do que agredir o mensageiro. Até porque há muita gente interessada em acabar com as escolas, as universidades e o planeta juntamente com tudo o resto.
Ilustração de João Fazenda