Pensamentos vagos
Na maioria dos povos onde se conquistou uma classe média nos últimos cinquenta anos e não só, noutros também, a sua população parece hoje muito mais alienada e burra que nunca. Será que o capitalismo, disfarçado de uma acessibilidade democratizada aos conteúdos, nos transformou a todos em zombies intelectuais. Isto é, temos corpo, pernas e músculos, mas andamos apenas pela necessidade de comer, não temos miolos. Pois, temos mais conhecimentos, mais conteúdos, mais informação, mas a maioria parece perdida no mar de inutilidades, materiais e necessidades vagas.
Talvez não seja exactamente assim. Talvez haja, por um lado, apenas uma maior exposição do comportamento do indivíduo, no sentido em que aquilo que cada um faz, enquanto particular e privado, se tornou num assunto mediático para um pequeno circuito, ao mesmo tempo que o voyeur se tornou também comerciável, quer na televisão como nos espaços on-line - como esta plataforma, ou o Facebook - e com ele a banalidade se tornou espectadora e consumidora de si própria. Enfim mais banal, numa espiral descendente em que o patamar do mínimo entrou num declínio de reformulações de tabulação ascendente, onde o ruim é cada vez melhor, e o mínimo cada vez pior. Ou seja, em vez de nos tornarmos mais exigentes com a aquisição e acessibilidade de conteúdos, formatos e bens, tornamo-nos menos exigentes e passivos, fruto da falta de prática e necessidade por lutar e se fascinar por algo realmente novo, melhor e difícil de alcançar.