Sporting 0-1 Académica
Jornais deportivos, 21 de Maio de 12
A Taça é nossa! E quando digo “nossa” não estão no “nossa” apenas os apoiantes da Académica/OAF, ou os conimbricenses, as tricanas (como alguns lembraram ontem) ou os “velhos” que em novos fizeram as manifestações de 69. Não, nessa pequena palavra, quase sinónimo de comunhão, estão todos os que partilham das dificuldades dos estudantes, representadas ontem, com algum custo, nas bancadas do Jamor. Ou seja, também não são só os estudantes, como também os seus familiares que tantos sacrifícios fazem para os ajudar a manter na universidade e fazer aquilo que nenhum governo pós 25 de Abril demonstrou ter vontade de concretizar: uma população formada e capaz, com massa crítica e capacidades de fazer mais e melhor pelo país.
Ainda bem que a taça veio para Coimbra. Primeiro para calar de imediato todos aqueles que, à boca grande e durante duas horas estiveram na RTP1 a dizer que o Sporting era o favorito, isto apesar de, para ali chegar, a Académica/OAF ter eliminado o F.C. Porto (bicampeão nacional). Segundo, para calar aqueles que continuam a passar atestados de imbecilidade a todos os estudantes e, ontem, aos apoiantes da Briosa.
A esses, alguns até adeptos de Marcuse e presentes na crise de 69, para quem, na altura, a Académica serviu para mostrar ao país o que se estava a passar em Coimbra, tenho algumas coisas a dizer: primeiro que tudo, os estudantes que hoje apoiam a Académica sabem perfeitamente que esta não é a mesma da década de 60 e percebem perfeitamente o que significa a sigla OAF (Organismo Autónomo de Futebol) a seguir ao nome. Segundo, onde é que estavam no ano de 1974 quando a AAC extinguiu o seu futebol “profissional” em assembleia magna, a votar a favor ou a namorar nos Jardins? Por fim, tenho a dizer que, apesar de não gostar da direção atual nem da Associação Académica nem da Académica/OAF, continua a fazer todo o sentido permanecer ao lado do clube que representa tudo o que disse acima e que, apesar de todas as adversidades ontem, depois de estar quase a descer de divisão, consegui um título e uma participação na Liga Europa com um dos cinco orçamentos mais baixos da liga.
Mas mais importante que isso foi o facto de, pese embora as diferenças de circunstância, conseguiu juntar tantos estudantes ou mais em torno da mesma causa que a Queima das Fitas decorrida ainda há uma semana e estes marcaram presença no estádio do Jamor. Não só pelos copos, pela farra, pelos gritos de apoio mas também para mostrar as faixas, que à imagem de 69, circularam para manifestar o descontentamento presente naquela que é hoje a classe mais baixa da sociedade, ainda mais que os “trabalhadores”, os estudantes com a garantia tenebrosa de um país sem Educação, sem Cultura, sem Civismo e sem Dinheiro! E a verdade é que, mais uma vez, ninguém conseguiu mostrar esse descontentamento na comunicação social de uma forma tão prolongada como ontem o fizeram os estudantes durante pelo menos 45 minutos.
Fica ainda uma nota para o trabalho jornalístico (principalmente da RTP1) desenvolvido em torno de todo o espetáculo: primeiro tomaram como ganha a taça por parte do Sporting fazendo até adivinhações do que poderia ter sido uma época inteira com Sá Pinto; como tal não estavam minimamente preparados para a derrota da equipa de Lisboa e isso notou-se na incoerência dos diretos que às 23h ainda não sabiam distinguir a Praça 8 de Maio da Praça da República em Coimbra; por fim, sumariamente, um total desconhecimento acerca da história da Académica e uma total desconsideração pela sua campanha até à final. A nota positiva vai apenas para a Antena 1 pelo trabalho desenvolvido nos minutos após o jogo.