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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

O nosso problema não é a China

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Desde o início da Pandemia, atacar a China por tudo e mais alguma coisa tornou-se o desporto favorito se muita gente, o que é chocante. Agora, até na discussão sobre o uso dos dados móveis. Primeiro, a NSA e a CIA há anos que roubam dados de comunicação directamente dos cabos de dados submarinos, para espiar toda a informação e mais alguma, de qualquer pessoa de qualquer país. Segundo, eram (talvez ainda sejam) os EUA que andavam a espiar os próprios aliados, fazendo escutas de líderes mundiais. Lembram-se do Assange e do Snowden? Terceiro, quem usou os dados dos telefones para monitorização dos habitantes e isolamento dos doentes ou possíveis contagiados não foi a China, foram a Coreia do Sul e Singapura. Estes dois países, assim como Hong Kong, Taiwan e Japão, foram também pioneiros em medidas fortes de isolamento e quarenta, controlo de fronteiras e exames em massa. Isto tudo porque aprenderam com anteriores epidemias e com o esforço da China.

 

No que diz respeito aos dados dos telemóveis, o mundo perdeu a oportunidade de regular a utilização da Internet, e com ela a utilização e venda de dados pessoais dos utilizadores de plataformas, aplicativos e softwares. A questão é se confiamos no Estado para gerir os dados que as empresas privadas já têm e usam para enriquecer, vender produtos e serviços ou influenciar eleições, políticas públicas e governos, um pouco por todo o mundo; ou se preferimos viver numa gaiola dourada, onde achamos que somos livres nas nossas escolhas e interesses, apesar de sermos constantemente condicionados pela tecnologia. 

 

Usar a China sucessivamente como exemplo negativo de todos os males do mundo, conforme o interesse, tanto à esquerda como à direita, não só é uma falácia retórica como é um fracasso intelectual, sobretudo agora. Pois é lá que a esmagadora maioria da tecnologia é fabricada.

 

Da mesma forma que a raiz dos problemas ocidentais não está no oriente, também não é das instituições que nos representam que devemos ter medo, mas sim daquelas que não representam outros interesses se não os próprios. Às primeiras devemos exigir explicações e isonomia, através da fiscalização e evitando que sejam controladas pelas segundas, a quem devemos impor regulação e exigir contribuições económicas e sociais. Como dizia o mestre Yoda, "o medo da perda é um caminho para o lado negro", que "não é mais poderoso, apenas mais rápido, mais fácil e mais sedutor".