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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Bolsonaro é ignorante: e daí?

E daí?

A eleição de Bolsonaro é uma doença que resultou de um de vírus que há muito assola não só o Brasil, como o mundo inteiro.  Foi a consequência de anos de despolitização e desmobilização, que abriram espaço à penetração da lógica do “senso comum”. O processo de despolitização do senso comum é mais rápido do que a capacidade de compreender a complexidade do mundo, pois permite inferir conclusões básicas através de processos irracionais, mesmo a quem não é especialista de nada e ignorante na maioria das coisas. É isso que lhe permite desresponsabilizar-se de tudo, inclusive das mortes que a sua falta de liderança e ação provocam: "E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre​". A sua única especialidade é fugir.

 

Gramsci escreveu que “o ‘senso comum’ é o folclore da filosofia, e está sempre entre ser folclore no sentido padrão e ser a filosofia, ciência e economia dos especialistas”. Ora, Bolsonaro é o mais folclórico de todos os líderes do mundo, baseando qualquer ação e política na profunda ignorância e incapacidade intelectual que o caracterizam. Ele admite até que assina decretos sem ler, e daí? “Tem decreto que tem 20 páginas e às vezes tem um palmo de papel para assinar ali. E não é só ler, tem que interpretar também. Eu não tenho como interpretar". Se ler não é a sua especialidade, compreender ainda menos. Ou seja, ele não tem a mínima noção do alcance e extensão do que diz e nem do que faz, ou do que devia fazer. Por isso, resta-lhe culpar os outros.

 

Assim como um messias, ao qual ele se compara, Bolsonaro apresenta-se sempre como a solução de todos os problemas, ele é o “rei sol”, o centro de todas as coisas e a estrela de todos os assuntos. Ele tem a solução “lógica” e “óbvia”, normalmente “simples” (ou simplista) para qualquer problema, mas sem de assumir os erros. Pois, quando erra na economia, ele não é economista, e daí? Quando falha na edução, ele não é professor, e daí? Quando falham na saúde, ele não é médico, e daí? E até mesmo quando as pessoas morrem, ele não é coveiro, e daí? Ao mesmo tempo, ele ignora a história, acha-se dono da Constituição e é incapaz de perceber a diferença entre ele e o cargo que ocupa, por isso, quando nomeia um amigo dos filhos para chefiar a polícia que os investiga, ele responde também: “e daí?”. A dúvida sobre o elementar é a arma mais mortífera dos ignorantes. Ela serve para legitimar o absurdo e desqualificar o essencial.

 

Pois nem sempre a dúvida parte da ignorância genuína, mas sim da crença arrogante de que o outro está errado. São assim aqueles cujo único trabalho tem sido questionar tudo aquilo que tem sido feito – no mundo inteiro e com base no conhecimento cientificamente consolidado do vírus e da doença – como também aqueles que, com a mesma arrogância, propõem soluções absurdas (como injetar sabão ou desinfetante nas pessoas) ou se isentam de responsabilidades. Onde se tomam medidas questiona-se “e se não forem as corretas?”; e onde elas não são tomadas e as pessoas morrem, pergunta-se “E daí? Quer que eu faça o quê?”. São duas caras da mesma moeda.

 

Imagem de por @dukechargista, através de @DomTotal.

 

Sobre as estantes que importam

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Desde que começou o período de isolamento e quarentena, nas últimas semanas, os comentadores e convidados de programas de televisão, ou até mesmo alguns dos protagonistas das múltiplas lives agora a acontecer constantemente nas redes, decidiram transformar o plano de fundo das suas filmagens numa competição de ego intelectual, sobre quem tinha ou não a melhor estante, a melhor colecção de livros e a mais abastada biblioteca do reino. Independentemente de muitas vezes isso ser contraditório à capacidade de raciocínio demonstrada durante a exposição oral. Chegou até a criar-se uma página, com bastante sucesso e senso de humor, onde essas estantes são analisadas e avaliadas, a excelente Game of Estantes. Surgiram até painéis de imitação à venta. O que é certo é que as estantes existentes, ou não, na casa de cada um, assim como os objetos e volumes de papel que as compõem, se tornaram meio de ostentação, relíquias de padrão de classe e objetos de contemplação, mais do que meios de reflexão, conhecimento e interesse crítico.

 

Infelizmente para mim, quando me mudei para o Brasil, uma das coisas que mais me custou deixar em Portugal foram, precisamente, os livros. Hoje podiam estar a enfeitar uma parede de dois metros e meio composta por quatro estantes individuais, como no passado. Mas ao invés disso, estão encaixotados e guardados à espera de um dia poderem voltar a conhecer a luz do dia. Talvez por isso a minha crítica a tamanha exposição de livros, talvez ela não passe de recalque ou inveja. Não sei, mas outra coisa que também surgiu nos dias de confinamento, foi a ideia da produtividade criativa e do consumo obrigatório de literatura, como obrigações e imposições morais (e intelectuais), muitas vezes elitistas. Como se houvesse qualquer tipo de dever social em nos alienar da convulsão humanitária, para nos afogarmos num mar de letras, escrito no passado, ou num poço de criatividade, rumo ao futuro.

 

Então, achei interessante este quadro de Carl Spitzweg, pintado em 1848, após as revoluções francesas e as guerras napoleónicas, como uma crítica ao conservadorismo europeu e aos intelectuais e estudiosos da época, que procuravam discorrer sobre o mundo alheios à realidade e com o nariz enfiado nos manuais do passado. Uma crítica àqueles que eram incapazes de compreender que a sociedade tinha mudado, porque viviam alienados do mundo exterior. Uma censura aos Ratos de Biblioteca que vivam na solidão empoerada das suas bibliotecas rançosas.

Os livros, as estantes e as bibliotecas são importantes, mas só se servirem como meio de aproximação e desenvolvimento crítico e não como forma de distanciamento social. 

 

Pintura de Carl Spitzweg, "O Rato de Biblioteca" (1848), 49,5 x 26,8 cm, óleo sobre tela, Grohmann Museum.

Senha "Coragem", contrassenha "Pela Vitória"!

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O 25 de abril fez-se de lutas, de pessoas, de sorte e de acasos e também de coragem.  Fez-se das lutas contra o fascismo, contra a opressão e contra a tirania de um regime autoritário, que ceifava a liberdade de agir e pensar de todos. Fez-se da vontade de todos os que achavam injusto combater, morrer e matar pessoas no ultramar, em nome de um regime que não os representava e que os castigava com a brutalidade e as atrocidades da guerra. Fez-se da sorte e do acaso, que levaram Celeste Caeiro a cruzar-se com os militares, com um ramalhete de cravos nos braços que dariam lugar às balas. Fez-se também da coragem de todos os que deram o corpo às balas de canhão, como Salgueiro Maia, arriscando a vida em troco de nada, a não ser a liberdade do povo.

 

Povo esse que teve a coragem também de sair à rua, de se inquietar com o desassossego do apelo revolucionário que invadira Lisboa e Portugal. O povo que teve a coragem de apoiar os capitães que comandavam as operações na rua, lado a lado com eles. O povo que subiu às chaimites nesse dia, que veio à janela, que chorou e festejou de alegria e que nos dias seguintes transformou a euforia em assembleias de bairro, em projetos de urbanização, de apoio social e na construção de um Estado Social forte, que fugisse à lógica de uma caridade e miséria perpétuas, criando a obrigação ética, moral e política de restituição de tudo aquilo que lhe foi roubado durante meio século. Um povo que escolheu, intransigentemente, nos últimos 46 anos, a criação de mecanismos de igualdade libertadores e emancipadores, contra aceitação das desigualdades. Um povo que construiu, ergueu e preserva um dos melhores sistemas de saúde do mundo!

 

Parece ser difícil escrever e falar do 25 de Abril sem nos repetirmos, mas é nessa repetição que consiste a preservação dos ideais e valores presentes nessa data. Uma data feita de pessoas, corajosas e alegres, que sofreram, que choraram, que se emocionaram e que se superaram, para depois voltar ao seu dia-a-dia, despretenciosamente livres. Onde voltaram a ter a coragem de lutar, de se alegrar, de sofrer e chorar, de se emocionarem e superar os obstáculos de cada dia, construindo um “Abril Sempre”, usando a “Coragem” como senha “Pela Vitória”. E depois deles os seus filhos, os seus netos, bisnetos, e todos nós, numa massa anónima de corpos que constituem o Povo!

 

Um povo que pode pensar e escolher, que é livre de participar na política e que não precisa mais de depender da sorte e do acaso para afirmar as suas escolhas, para exigir os seus direitos e para garantir as suas liberdades. Um povo que goza da proteção que a Constituição lhe dá e da representação que as eleições lhe garantem, sob uma balança de equilíbrios e contrapesos no fiel da separação de poderes. Um povo que tem hoje a possibilidade de abraçar um futuro mais igualitário, justo e equilibrado, rejeitando as amarras de um passado populista, mas impopular.

 

O 25 de Abril fez-se de muitas lutas, de muito barulho e festa. Saibamos manter a luta, sempre, todos os dias, sem abdicar do barulho e da festa que a democracia nos trouxe, agitando o corpo e a alma de todos os que nela cresceram, vivem e preferem morrer. Viva a Revolução dos dias! Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade! 

No Brasil, teremos que cuidar uns dos outros

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O que está a acontecer no Brasil não é normal em país nenhum. Um ministro da saúde que mente ou ignora os dados, inclusive de outros países. Um ministério aparelhado por militares. O chefe da diplomacia que e diz que o vírus é comunista e ataca a OMS. Colapso de hospitais em algumas cidades, com valas comuns a serem abertas com escavadoras. Shoppings a reabrir noutras, com saxofonista e palmas às aglomerações de clientes. O ministro da economia que insiste em reduzir o estado, privatizar serviços e cortar em servidores, porque que a solução está no privado. A ajuda emergêncial demora a chagar a quem precisa e os despedimentos continuam. O presidente, o rei nu desta farsa, participa de manifestações contra o isolamento e os outros poderes num dia, e diz que ele próprio é a constituição no outro.

 

A esmagadora maioria dos governadores estaduais (o Brasil ainda é uma federação) está neste momento a enfrentar uma crise com três frentes: a avalanche de casos e mortes que comprometem o atendimento médico; a pressão constante de empresários e associações empresariais, juntamente com carreatas contra o isolamento que fazem paradas que bloqueiam as artérias de acesso aos hospitais; e o próprio presidente, que armadilha o congresso, ameaça o STF, não tem uma estratégia para lidar com a situação — a não ser eximir-se de responsabilidades e sabotar qualquer tipo de medida — e ainda incentiva as pessoas a descumprir o isolamento. Praticamente nenhum Estado está a cumprir mais de 50% de confinamento, o país é um dos que menos testes faz e mesmo assim, com parques, praias e ruas lotados, a situação só não é pior porque muita gente fica em casa.

 

O governador do Maranhão teve que usar manobras de guerra, para conseguir trazer respiradores comprados na China, evitando os EUA através da Etiópia, e ainda recorrer ao STF para evitar que a União os confiscasse. A pior pandemia que o país enfrenta, na verdade, é a derrocada da democracia, que chegou antes do coronavirus. Enquanto profissionais de saúde desesperam e familiares lamentam a perda prematura de entes queridos (alguns bastante jovens), entre os quais vários enfermeiros e técnicos, a desinformação leva cada vez mais gente à rua, onde agora até os jornalistas são alvo de ataques. 

 

O que está a acontecer no Brasil é inaceitável em qualquer parte do mundo. Nem a pior das ditaduras é capaz de demonstrar tamanho desprezo generalizado pela vida humana. Há quem tema um golpe de Bolsonaro. Não precisa. A sua decadência política já transformou o estado num enorme necrotério. Resta-nos pouco mais do que respirar fundo e suster a respiração para aguentar a onda. Zelar pela segurança coletiva e individual de quem está próximo. Apostar na solidariedade e apoiar a generosidade de todos os que se organizam em plataformas de apoio social. Resta-nos pouco mais do que cuidar uns dos outros, aguentar o máximo possível e esperar que tudo passe, porque vai passar. Vai ser difícil, mas vai passar, e quando terminar vamos ter que condenar todos estes assassinos que nos querem dividir, enfraquecer e dizimar. Pode demorar, mas esse dia chegará.

5 lições sobre a celebração do 25 de Abril

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Algumas pessoas têm-se manifestado contra a cerimónia de comemoração do 25 de Abril, na Assembleia da República, alegando vários tipos de argumentos, como "se a Páscoa não se celebrou, o 25 de Abril também não", ou que "os políticos têm que dar o exemplo", entre outros. Contudo, a maioria desses argumentos não passam de falácias lógicas ou de estratégias de desinformação, vejamos:

 

1 - Comparar o 25 de Abril com a Páscoa, é o mesmo que discutir se Cristo era comunista. Isso é uma falácia lógica informal, chamada "falsa equivalência", ou como diz o ditado, "não se misturam alhos com bugalhos". O 25 Abril é uma data política, que marca o fim de uma ditadura fascista por intermédio de uma revolução militar e popular, possibilitando o nascimento do regime democrático constitucional, ao fim de 48 anos de opressão e perseguição política. Já a Páscoa é uma comemoração religiosa, comparável ao Ramadão e à Pessach (Festa da Libertação dos hebreus do Egito) e nenhum deles foi alvo de descriminação perante a lei, no que diz respeito às medidas de restrição de circulação, distanciamento, isolamento e de segurança sanitária. Assim como a sessão do 25 de Abril também não terá nenhuma discriminação, positiva ou negativa, face a todas as outras sessões que têm decorrido diáriamente no Parlamento.

 

2 - Neste momento é supérfluo falar do sacrifício de estar longe das famílias. Eu, por exemplo, vivo a 9 mil quilómetros da minha família, que não vejo há mais de um ano e que muito provavelmente não poderei rever até ao final deste ano, ou meados do próximo, por causa da Pandemia. Há pessoas isoladas em lares de idosos, com medo, que não conseguem ver nem receber os familiares. Há pessoas a enfrentar problemas graves de saúde, sozinhas em casa, com muito medo de morrer por causa do vírus. Há milhões de refugiados abandonados nos campos de acolhimento, longe das suas famílias, sem acesso a médicos, a hospitais ou a água potável sequer. Há pessoas cuja única coisa que pedem, antes de serem entubadas, é que os enfermeiros os deixem gravar uma última mensagem para a família, caso venham a falecer, porque muito poucos pacientes sobrevivem depois de entubados. Então, ter a possibilidade de estar longe da uma parte da família, durante qualquer celebração, para evitar contaminar alguém ou ser contaminado, é um sacrifício que se faz para salvar aqueles que temos a sorte de saber que estão bem. É um dever e uma responsabilidade, para preservar a saúde de quem amamos.

 

3 - Por isso é que também não faz sentido nenhum o argumento de que "os políticos devem dar o exemplo e não celebrar essa data, ficando em casa". Este argumento mistura duas falácias. Primeiro, a do apelo às consequências (prevendo que as pessoas vão sair à rua por causa disso, espalhando o vírus) e em segundo, a do apelo à emoção, nomeadamente ao medo (só eles se podem juntar enquanto nós não, por isso, se o vírus se espalhar por causa deles o nosso sacrifício é em vão e milhares de pessoas morrerão). Além de também comparar coisas que não são equivalentes. A democracia não está suspensa, ao contrário do que muita gente pensa, mas não deixa de ser sui generis ver pessoas a defender que os políticos não devem trabalhar, ao mesmo tempo que os acusam de não defenderem os interesses do povo. Ora, é precisamente dando o exemplo que os parlamentares têm mantido as sessões diárias, só com um terço dos deputados, aprovando e discutindo medidas que dizem respeito aos interesses coletivos da população. Assim como outras profissões que não podem parar, como na saúde, alimentação, distribuição e transportes, limpeza e manutenção, telecomunicações, fábricas de bens essenciais e derivados, recolha de lixo, correios, etc., assim como a sociedade depende destes e de outros profissionais para subsistir, ela também precisa que os políticos cumpram os seus deveres e assinalem as suas liturgias, assumam responsabilidades e líderem a situação. A única forma dos políticos darem o exemplo é trabalhando! Seja durante uma guerra ou durante uma pandemia. Se eles desistirem de fazer isso, aí sim é que se instala o caos. Vejam o exemplo do governo brasileiro. 

 

4 - Fazer política não é um privilégio, é um dever. Contudo, há muita gente interessada em deturpar esse pressuposto. É a estratégia da "despolitização", que usa o argumento tecnocrata da "pós-política" (de que devemos abandonar as velhas ideologias e buscar verdades universais, porque todos os políticos são iguais) e da falácia lógica da narrativa bélica e bíblica da "ultrapolítica" (do "nós" contra "eles"), com o objetivo de nos afastar das estruturas de organização política e de nos convencer a defender interesses normalmente contrários ao nosso bem-estar social. Desmantelando as instituições democráticas, privatizando serviços públicos, precatizando o trabalho e o poder das estruturas sindicais, desmobilizando reivindicações e desvalorizando símbolos e datas que assinalam conquistas populares. Assim, há décadas que nos tentam convencer de que os políticos "são todos iguais" e "um bando de chupistas" que só "falam, falam, falam, falam e eu não os vejo a fazer nada", desta forma, celebrar o 25 de Abril "é só uma desculpa para comerem e beberem à nossa custa". Não é! Ao contrário do que acontece normalmente, o 25 de Abril é o único dia em que todos os partidos têm direito a usar o tempo que quiserem para discursar sobre o que pensam da sociedade, da democracia, ou sobre quais deviam ser as prioridades para o país e para a população, no presente e no futuro. Todos, por igual. Com a presença do Presidente da República. Então, para nós, é uma oportunidade de ouvir cada um e julgar quais nos representam, ou não, diante das privações e dos obstáculos e oportunidades que se avizinham. Quem não quer que isso aconteça são os mesmos que prometeram abater ou privatizar o SNS, a segurança social e até as escolas, ou acabar com os serviços públicos, mas que agora fingem preocupação quando tudo ameaçar colapsar. São apenas 11 deputados, de um universo de 230, os únicos que são contra o dia da Liberdade! 

 

5 - Por fim, é legítimo que as pessoas discordem das decisões políticas e dos atos e cerimónias institucuinais. Lá está, "foi para isso que se fez o 25 de Abril". No entanto, fugir ao ao debate e ao confronto de ideias, sobretudo agora, é mais do que uma cobardia. É uma irresponsabilidade e uma falta de carácter, que visa apenas tirar dividendos da crença popular de que celebrar esta data na Assembleia "não serve para nada", o chamado "argumentum ad populum" (outra falácia), para se eximir de responsabilidades, não comparecendo. Uma vergonha ultrajante para com todos os que deram a vida para que Portugal seja um país livre, que tantos se orgulham de ajudar a construir e a preservar! São os vampiros à espreita, para nos tirarem o sangue que sobrar quanto isto tudo passar. Não se esqueçam deles, pois são os mesmos que não terão pudor em reafirmar as suas crenças e tendências anti-democráticas quando a maré baixar, exigindo sacrifícios e restrições. A começar pelas nossas liberdades, sem direito a contestação. Esta data é importante precisamente para nos lembrar que não podemos baixar a guarda, e que devemos continuar a lutar contra estes e outros oportunistas, com a mesma alegria e unidade com que derrubámos os anteriores!

 

25 de Abril sempre, fascismo nunca mais!

Viva a liberdade! Viva à revolução!

O nosso problema não é a China

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Desde o início da Pandemia, atacar a China por tudo e mais alguma coisa tornou-se o desporto favorito se muita gente, o que é chocante. Agora, até na discussão sobre o uso dos dados móveis. Primeiro, a NSA e a CIA há anos que roubam dados de comunicação directamente dos cabos de dados submarinos, para espiar toda a informação e mais alguma, de qualquer pessoa de qualquer país. Segundo, eram (talvez ainda sejam) os EUA que andavam a espiar os próprios aliados, fazendo escutas de líderes mundiais. Lembram-se do Assange e do Snowden? Terceiro, quem usou os dados dos telefones para monitorização dos habitantes e isolamento dos doentes ou possíveis contagiados não foi a China, foram a Coreia do Sul e Singapura. Estes dois países, assim como Hong Kong, Taiwan e Japão, foram também pioneiros em medidas fortes de isolamento e quarenta, controlo de fronteiras e exames em massa. Isto tudo porque aprenderam com anteriores epidemias e com o esforço da China.

 

No que diz respeito aos dados dos telemóveis, o mundo perdeu a oportunidade de regular a utilização da Internet, e com ela a utilização e venda de dados pessoais dos utilizadores de plataformas, aplicativos e softwares. A questão é se confiamos no Estado para gerir os dados que as empresas privadas já têm e usam para enriquecer, vender produtos e serviços ou influenciar eleições, políticas públicas e governos, um pouco por todo o mundo; ou se preferimos viver numa gaiola dourada, onde achamos que somos livres nas nossas escolhas e interesses, apesar de sermos constantemente condicionados pela tecnologia. 

 

Usar a China sucessivamente como exemplo negativo de todos os males do mundo, conforme o interesse, tanto à esquerda como à direita, não só é uma falácia retórica como é um fracasso intelectual, sobretudo agora. Pois é lá que a esmagadora maioria da tecnologia é fabricada.

 

Da mesma forma que a raiz dos problemas ocidentais não está no oriente, também não é das instituições que nos representam que devemos ter medo, mas sim daquelas que não representam outros interesses se não os próprios. Às primeiras devemos exigir explicações e isonomia, através da fiscalização e evitando que sejam controladas pelas segundas, a quem devemos impor regulação e exigir contribuições económicas e sociais. Como dizia o mestre Yoda, "o medo da perda é um caminho para o lado negro", que "não é mais poderoso, apenas mais rápido, mais fácil e mais sedutor".

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