Nazis, autoritários e assustadoramente impunes
Depois de um desembargador ter censurado um filme humorístico de teor religioso; depois de ter um secretário da cultura que faz discursos nazis; depois do ministério da educação ter tentando censurar um livro sobre o guru do governo; depois de escancaradas as evidências da suspeição e falta de isenção do atual ministro da justiça no julgamento e condenação do principal candidato às eleições:
O Ministério Públio Federal Brasileiro resolve denunciar (acusar) o jornalista — que publicou a matéria sobre as mensagens que revelam a quadrilha ideológica montada entre ministério público e judiciário para prender adversários e proteger aliados políticos, ajudando a extrema-direita a chegar ao poder — de ter participado ou colaborado na invasão dos telefones do juiz e procuradores. Algo surpreendente e inexplicável, uma vez que o próprio jornalista não era sequer alvo das investigações no decorrer do processo.
Pelo meio, foram atropelados todos os direitos e garantias referentes à liberdade de informação e de expressão, à autonomia e ética jornalista, ao próprio dever de informar dos jornalistas e meios de comunicação. Um ataque sem precedentes à imprensa livre.
Coincidentemente, isto aconteceu um dia após a TV Cultura (do Estado) ter entrevistado o ministro em causa no programa "Roda Viva" - onde pela primeira vez um entrevistado teve acesso à lista dos seus entrevistadores, com poder de veto - onde afirmou que as ditas mensagens são apenas "bobagem". Ou, onde disse que não ia comentar as agressões do presidente a jornalistas, por ser seu chefe. Ao mesmo tempo, Sérgio Moro aparece destacado nas pesquisas de intenção de voto numas futuras presidenciais.
Nada disto é interinamente novidade, mas não deixa de ser assustador. Desde o primeiro instante que tanto Sérgio Moro como o próprio Bolsonaro (seus apoiantes, políticos e jornalistas da mesma área ideológica ou próxima) ameaçaram Glenn Greenwald e fizeram ataques ao seu trabalho, à sua orientação sexual, à sua família e amigos. Houve inclusive um jornalista que chegou a agredi-lo fisicamente. Por outro lado, abusos de autoridade ou processos de inclinação ideológica nunca foram uma novidade no Brasil, contudo, recentemente tornaram-se a imagem de marca do atual executivo. Basta lembrar o que aconteceu aos voluntários da ONG Alter do Chão, presos e acusados de atear os fogos que ajudam a combater, sem provas, ao passo que os fazendeiros autores do "dia do fogo" andam a monte.
O que realmente assusta é isto. O processo cada vez mais acelerado e flagrante de autoritarismo das diversas estruturas de equilíbrio dos poderes estatais e a cumplicidade das instituições que deveriam assegurar e preservar o estado de direito e as garantias e liberdades democráticas. Uma avalanche de abusos e atropelos, que abre caminho à impunidade de quem está a esvaziar o debate, através do apio que muitas pessoas continuam a depositar em tais atores políticos.