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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

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25 DE ABRIL SEMPRE?!

 

 

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Há uns anos para cá que tenho marcado esta data com algum texto onde procure refletir sobre o seu significado, mas acima de tudo, sobre o significado polissémico que a Liberdade e a Democracia devem ter no nosso dia-a-dia. Não respirava, nem sequer era vivo quando os tanques entraram em Lisboa, as carabinas encheram os canos de cravos, ou quando começaram as rendições. Não tenho a dita, “autoridade”, de quem advoga ter “vivido” o dia. Nasci já depois das assembleias populares, depois dos verões quentes, da descolonização, do compadrio que tomou conta do Ensino Superior, depois das nacionalizações e privatizações e, por isso, depois da Constituição de 25 de Abril de 1975, que dá nome à rua onde vivi 20 anos, e das suas primeiras revisões. Nasci já só em Agosto de 1990. Mas duvido da narrativa daqueles que me querem convencer que o 25 de Abril ficou ali, preso, há 42 anos.

 

Para mim, o 25 de Abril deve ser uma data como o 1º de Maio, que mais do que celebração, deve ser também, e sobretudo, de luta e reivindicação. Como escrevi há 2 anos. Para a qual devíamos agendar manifestações, para as quais essa data abriu as portas da Liberdade, de ação e pensamento. Mas, sem esquecer que nada ficou feito ou pronto a 25 de abril de 1974. Pelo contrário, tudo ficou por fazer. E os dias e anos seguintes, controversos e conturbados, são prova dessa razão. Assim como os dias de hoje, quatro décadas depois, para aqueles que me atiram as culpas de nascer “depois da história”. Mas hoje, ainda há muito Abril por cumprir.

 

Em tanto, e muita coisa. Mas serei breve, que os tempos não aguentam a agonia da fugacidade. Mas falta cumprir-se, por exemplo, um Abril onde o trabalho qualificado não seja desprezado e mal pago, abaixo quer da inflação quer do investimento pessoal e social na Educação. Falta-nos a Educação que se consiga autónoma, forte, e essencialmente pluridisciplinar e multidisciplinar. Falta-nos a abertura dos partidos, tantos e muitos que advogam a si a posse de uma data que nunca fizeram cumprir internamente. Onde reina a opressão tirana da confluência de interesses, e a recompensa do compadrio. Falta quebrar esse muro de surdez, para que o Povo tenha uma palavra direta e decisiva sobre o rumo, quer da génese identitária, quer das políticas e prioridades, tanto dos partidos, como do Parlamento como do Governo, acompanhado e em diálogo com a Presidência.

 

Da mesma forma, que nos falta compreender que não há retrocessos históricos, e que, por mais que tentem massajar os factos, a verdade sobressai sobre qualquer narrativa ideológica ou maniqueísmo histórico, social ou económico. Falta cumprir-se um Abril onde, em vez de baionetas retóricas, haja cravos de confluência pelo interesse nacional, e não pelo assalto ao poder partidário e executivo. Falta-nos um Abril, onde cessem as acusações de parte a parte, e haja uma prioridade essencial e superior a qualquer diligência entre o mais radical neoliberal e o mais conservador comunista: o bem-estar da população, o desenvolvimento social, e um progresso subordinado às necessidades fundamentais da sociedade.

 

Enquanto isso, vou já varanda, onde vivo há 4 anos, e olho sobre a Praça 25 de Abril, e onde nunca vi uma celebração, uma manifestação, nem sequer um piquenique nos jardins envolventes da fonte central que, hoje, está desligada, suja e meio abandonada.

 

IMAGEM: © Eduardo Gajeiro, 25 de Abril de 1974, Capitão Salgueiro Maia no Largo do Carmo fala com a população.