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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

A (mal) dita Europa

 © João M. Pereirinha | 2014


 

 

A (mal) dita Europa onde se discutem sansões económicas às elites imperiais do Kremlin, não por defenderem uma ideologia de controlo euro-asiático, mas por não terem alternativa se não a de anexar um local “geopolítico” fundamental para si mesmos, e que consideram seu, e que à vista do que o atual governo de extrema-direita Ucraniano – plantado por ventos de instigação euro-ocidentais – até a própria população ansiou… enfim, a mesma Europa, (mal) dita, onde se deu já o teatro de uma Guerra Mundial em dois atos e também com inúmeros paralelismos face ao que vivemos hoje, é a mesma Europa que anexou a si os seus países do sul, tornando-os satélites em deveres à casa-mãe, e bastardos do mercado capital.

 

Esta Europa, que é tida como exemplo pelas américas – em todos os quadrantes políticos – é um marasmo de respeito mútuo. Esta Europa é só central, porque os subúrbios já serão outra coisa qualquer da periferia imunda. Um não-lugar europeu, um não-sítio político. Uma não-democracia consentida. Em breve pó, e um dia nada. Porque a alma já nos roubaram. E todos os corpos queimados acabam em cinzas que esvoaçam.

 

Aproxima-se um vento frio. Um congelamento moral. Enquanto se discute uma possível Guerra – possível, aquilo que se queria impossível – Portugal acaba de sair de uma, bem mutiladora, mas mais uma vez, e como aconteceu com todas as outras até com o Ultramar, ninguém quer saber disso. O que importa é que não sejamos uma nova Cuba, ou Argentina, que não podemos ser, pois não nos cabe verdadeiramente a nós. A nós cabe-nos suster os danos colaterais dentro das fronteiras. E de preferência as opiniões também. Aliás, essas podem ficar em casa, pois só há um partido no país, e este está com o Presidente, e o Presidente ele. Outro que houver será ilegal, como o era e sempre o foi.

 

A nós cabe-nos olhar o mar e afogar, mortos de sede, as mágoas do dicotómico nacionalismo contraditório. Nesta Europa de segunda, onde ser de primeira é um privilégio de nascença e identidade.

 

Podemos sempre olhar os aviões, e desejar estar num deles, mesmo em classe económica, com os pés acima da terra, e nunca mais aterrar em tal deserto movediço.

 

Nós somos como um filme: uma imitação da realidade, em película de nitrato, que estragada, passa a ser uma geleia inflamável, depois a cristais incandescentes, e por fim a pó consumido pelas chamas. Somos um simulacro.