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Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Vetores da Inutilidade

Poesia, Atualidade, Crítica, Opinião, Artes e Cultura. Um blog por João M. Pereirinha

Um Conto

Diário de Bordo

 

 

 

Era uma vez uma criança que brincava na praia, passeava durante dias e dias pela imensidão da areia, brincava com o vento, divertia-se com a espuma das ondas. Era uma vez uma menina que, apesar da sua tenra idade, era capaz de perceber o porquê do dia e da noite, era capaz de fazer coisas maravilhosas e sabia o porquê das marés. Era uma vez uma menina que brincava.

 

Essa menina brincava porque brincar talvez fosse o único sinal que lhe restava para provar ao mundo que ainda era uma criança, talvez brincar fosse a única coisa que podia fazer para melhor compreender o mundo que a rodeia.

 

Um mundo que nos maravilha com as ondas do mar, um mundo que nos maravilha com o reflexo do sol no mar, um mundo que nos maravilha com as conchas que dão à costa, mas que apesar de todas as suas maravilhas este é um mundo que nos tira a vontade de brincar que há dentro de cada um de nós…Pois como pode uma criança continuar a sê-lo quando não há um pai que a adormeça todas as noites? Como pode essa criança continuar a sê-lo quando não há uma mãe que a leve à escola todos os dias? Pode-se ser criança sem que haja alguém para nos corrigir, para nos ajudar a compreender o mundo que nos abraça súbita e constantemente?

 

Era uma vez uma criança que brincava com as únicas lembranças que tem dos seus pais: A Praia, o mar e a areia num infinito abalroamento mutuo de cumplicidade. Cumplicidade essa que é capaz de levar um pequeno barco de pesca a afundar-se no fundo do oceano, cumplicidade essa que á capaz de arrebatar uma casa engolindo com ela aqueles olhos azuis e aquele cabelo castanho que reflectia os raio de sol e que se agitava com a força do vento, cumplicidade essa que é capaz de se deixar a si mesma como única recordação do que um dia foi tudo para alguém.

 

Agora a criança brinca, fazendo ela também parte dessa cumplicidade, amando ela as estrelas que banham a praia, sorrindo ela com a espuma da água, dormindo ela junto aos grãos de areia. Agora a criança brinca com as memórias do passado, recordando apenas o bom de tudo o que o mundo lhe deu.

 

Agora a criança já não é criança, é um anjo que nos vê do alto dos céus e que nos guarda todos os dias sempre que tentamos deixar de ser crianças. Agora a criança não é mais criança, é o sono que nos traz sonhos que nos transportam para lá do conhecido mundo, um anjo que nos transforma novamente em crianças, sem mal nem bem, apenas crianças, um anjo que nos leva à vida.

 

Era uma vez um crescido que hoje é uma criança que brinca na praia na esperança de um dia se tornar uma estrela…